O Fato:
Suspensão da Síria pode não ser suficiente, dizem analistas
A decisão da Liga Árabe de suspender a Síria
isolou ainda mais o regime do presidente Bashar al-Assad e estimulou a
oposição, mas pode não ser suficiente para acabar com o derramamento de
sangue, segundo analistas.
A Síria se tornou a segunda
nação da "Primavera Árabe" a enfrentar este tipo de sanção este ano pela
Liga Árabe - criticada há muito tempo por sua postura impotente frente
aos déspotas da região -, depois da suspensão da Líbia em fevereiro.
"Esta
é uma decisão muito importante. Pela primeira vez, a Síria perde a
proteção árabe", disse Joseph Bahout, especialista sírio da universidade
Sciences-Po em Paris, observando que 18 dos 22 membros da Liga votaram
pela suspensão.
"Quando se trata dos trabalhos de ordem política árabe, esta é uma nova e inesperada decisão", disse ele.
Em
um encontro extraordinário de ministros das Relações Exteriores no
Cairo, a Liga decidiu no sábado suspender a Síria de todas as suas
atividades até Damasco implementar o plano de paz firmado com o grupo
árabe.
O governo sírio reagiu nesta segunda-feira, considerando a iniciativa árabe "vergonhosa".
"A
decisão da Liga Árabe de suspender a Síria representa um perigoso
passo", disse o chanceler sírio Walid Muallem em uma coletiva de
imprensa em Damasco.
Uma declaração, lida pelo primeiro
ministro do Qatar Hamad bin Jassem al-Thani, também disse que a Liga
deve implementar "sanções econômicas e políticas" contra Damasco, sem
mais explicações.
Sheikh Hamad disse que a suspensão vai
durar "até a implementação total (pela Síria) do plano árabe para
resolver a crise, que Damasco aceitou no dia 2 de novembro."
A
Liga convidou "todos atualmente na oposição da Síria a se reunirem nas
instalações da Liga Árabe no Cairo em três dias para esboçar uma visão
conjunta para o período de transição que se aproxima".
"É o começo do reconhecimento oficial" da oposição, disse Bahout à AFP.
Apesar da suspensão, a Síria ainda é um membro da Liga Árabe, ao contrário do Egito, que perdeu seu assento em 1979, depois de assinar um acordo de paz com Israel.
Apesar da suspensão, a Síria ainda é um membro da Liga Árabe, ao contrário do Egito, que perdeu seu assento em 1979, depois de assinar um acordo de paz com Israel.
A suspensão, entretanto, é vista como uma
poderosa ação dentro da região, que pode enfraquecer o apoio da Rússia e
da China ao regime sírio no Conselho de Segurança da ONU.
"Agora
que a Liga Árabe tomou uma ação crucial, é hora de o Conselho de
Segurança da ONU finalmente tomar posição e fornecer uma resposta
internacional efetiva à crise de direitos humanos da Síria", disse
Philip Luther, chefe da Anistia Internacional para o Oriente Médio e o
Norte da África.
"A questão é se aqueles países que têm
bloqueado uma ação internacional efetiva na Síria - em particular Rússia
e China - reconhecerão o quanto eles se tornaram isolados", declarou
Luther.
Pelo acordo da Liga Árabe, o regime sírio
concordou em libertar prisioneiros, retirar o Exército de áreas urbanas,
permitir a livre movimentação de observadores e da mídia e negociar com
a oposição.
"Conhecendo este regime, ele provavelmente ficará mais firme e a opção pela segurança será expandida", previu Bahout.
"Tentaremos
enviar observadores civis para a proteção da população, mas,
obviamente, não está claro se o governo sírio aceitará, provavelmente
recusará", disse um diplomata árabe na Liga à AFP.
Se não
há progresso político, também há o medo de radicalização entre
manifestantes contra o regime. "Há temores que as manifestações se
transformem em um conflito armado", disse o diplomata, que pediu para
não ser identificado.
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