Os Fatos:
CNT diz que lei islâmica será a base de novo governo da Líbia
O líder do Conselho Nacional de Transição (CNT) da Líbia, Mustafa Abdel Jalil, disse neste domingo que a sharia (lei islâmica) deve ser a base para o novo governo da Líbia. "Qualquer lei que contradiga a sharia islâmica é nula e vazia, legalmente falando", disse Jalil, durante a cerimônia em que o governo interino declarou oficialmente a libertação do país.
A cerimônia aconteceu em Benghazi, berço da revolta contra o regime ex-líder Muamar Kadafi, diante de milhares de pessoas. Kadafi foi morto
na última quinta-feira, depois de ser capturado pelas forças do CNT,
apoiadas pela Otan, em sua cidade natal, Sirte. No entanto, o governo
interino sofre pressão para dar início a uma investigação sobre o
momento da morte do ex-líder líbio.
Nesta sexta-feira, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton,
reforçou o pedido de inquérito sobre as circunstâncias em que Khadafi
foi morto. Hillary disse que, apesar de entender o alívio do povo líbio,
ninguém quer ver um ser humano nestas condições, referindo-se às
imagens que mostram Khadafi com forte sangramento e pedindo por sua
vida.
Durante a cerimônia, o vice-diretor do CNT, Abdel Hafiz Ghoga
anunciou que a Líbia havia sido libertada, dizendo: "Declaração de
liberação. Levante sua cabeça. Você é um líbio livre". Em seguida,
milhares de vozes repetiram a frase "Você é um líbio livre" em uníssono.
O líder do CNT, Abdel Jalil ajoelhou-se para agradecer a Deus pela
vitória diante da multidão e pediu por perdão, reconciliação e unidade
no país. "Hoje nós somos uma só carne nacional. Nos tornamos irmãos
unidos como não éramos no passado", disse.
Ele agradeceu a todos os que fizeram parte da revolução, incluindo os
jornalistas que a apoiaram, e desejou sorte aos manifestantes
anti-governo na Síria e no Iêmen.
Ele disse ainda que rejeitaria quaisquer leis que vão contra os
princípios da lei islâmica, citando como exemplo a lei sobre poligamia
que é vigente no país.
"Um exemplo é a lei de casamento e divórcio, que restringe a
possibilidade de ter múltiplas esposas. Essa lei vai contra a sharia
islâmica e será rejeitada."
Jalil foi aplaudido pela multidão ao mencionar a lei e disse ainda
que o governo reformaria o sistema bancário, que também deve estar em
conformidade com a sharia. O secretário-geral da Otan, Anders Fogh
Rasmussen, comemorou a declaração de liberdade e pediu "uma nova Líbia
inclusiva, baseada na reconciliação e no total respeito pelos direitos
humanos e pela lei".
Ele afirmou também que a Otan manteria sua "capacidade de responder
às necessidades dos civis, se necessário". Horas antes, o
primeiro-ministro interino da Líbia, Mahmoud Jibril, diz que eleições
parlamentares devem acontecer até junho de 2012. Segundo ele, os
parlamentares eleitos deverão elaborar uma constituição que será votada
em um referendo popular e formarão um governo interino até as eleições
presidenciais.
Ainda não há informações confirmadas sobre o paradeiro de Saif al-Islam,
considerado possível sucessor de Khadafi, e do temido chefe de
segurança do coronel.
Enquanto isso, o corpo de Khadafi e de seu filho Mutassim, também
morto na quinta-feira, foram levados para um contêiner refrigerado em
Misrata e exibidos à população, que formou longas filas do lado de fora.
Segundo fontes médicas, uma autópsia foi realizada neste domingo, concluindo que Khadafi morreu com um tiro na cabeça.
Os corpo devem agora ser entregues a integrantes de sua tribo para
serem enterrados, segundo o porta-voz do CNT, Mustafa Goubrani.
No sábado, o comandante das forças que capturaram Khadafi assumiu a responsabilidade pela morte do ex-líder.
Em entrevista exclusiva à BBC, Omran el Oweib disse que o coronel foi
arrastado para fora do cano de drenagem onde ele foi encontrado, deu
cerca de dez passos e caiu no chão ao ser atacado por um grupo de
combatentes furiosos.
O premiê interino, Mahmoud Jibril, disse à BBC que queria que Khadafi não tivesse sido morto.
Ele também afirmou ser a favor de de uma investigação completa sobre as circunstâncias da morte do coronel, como defende a ONU.
Muamar Khadafi, que chegou ao poder após um golpe em 1969, foi derrubado em agosto, após meses de combates.
Veja os principais fatos do governo de Muamar Kadafi
O líder deposto da Líbia Muamar Kadafi, morto nesta quinta-feira, passou 42 anos no poder e se tornou o líder com mais tempo de governo tanto na África quanto no mundo árabe.
Kadafi foi deposto em agosto, após sete meses de protestos e conflito
armado na Líbia, quando forças do Conselho Nacional de Transição (CNT),
órgão político dos rebeldes e hoje governo interino do país, tomaram o
controle da capital, Trípoli.
Veja os principais fatos da era Kadafi:
1o de setembro de 1969: Movimento dos
Oficiais Livres, liderado por Muamar Kadafi, expulsa o rei Idriss e
instala o Conselho de Comando da Revolução. Kadafi assume o poder.
1973: Líbia ocupa a Faixa de Auzu (norte do Chade)
até 1994. Neste período, as forças líbias intervêm várias vezes no
conflito do Chade.
Setembro de 1976: Publicação do "Livro verde" de
Kadafi, na qual explica sua filosofia política, apresentando uma
alternativa nacional ao socialismo e ao capitalismo, combinada com
aspectos do islamismo.
Março de 1977: Kadafi cria o conceito de
"Jamahiriya" ou "Estado das massas", em que o poder é exercido através
de milhares de "comitês populares". A teoria alega também resolver as
contradições inerentes no capitalismo e comunismo, para colocar o mundo
em um caminho de revolução política, econômica e social e libertar os
povos oprimidos.
8 de janeiro de 1986: Washington põe fim nas
relações econômicas com a Líbia e pede que Kadafi seja tratado "como um
pária", acusado de estar envolvido em atentados contra Roma e Viena em
dezembro de 1985
14 de novembro de 1991: Dois líbios são acusados de
participação em um atentado contra um Boeing da PanAm em Lockerbie, na
Escócia, que aconteceu em dezembro de 1988 e deixou 270 mortos). Em
2001, Abdelbaset Ali al-Megrahi é condenado à prisão perpétua por um
tribunal escocês. Em 2009, é libertado.
31 de março de 1992: Líbia sofre embargo aéreo e
militar da ONU, seguido de sanções econômicas. As últimas sanções foram
retiradas em 2003 após um acordo de compensação às famílias das vítimas
de Lockerbie.
1995: Expulsão de mais de 300 mil estrangeiros "em
situação irregular". Em 1985, Trípoli expulsou 30 mil trabalhadores
tunisianos, o que provocou a ruptura das relações diplomáticas com a
Tunísia até 1987.
10 de março de 1999: Justiça francesa condena à
prisão perpétua seis agentes líbios acusados de serem os autores do
atentado ao DC-10 francês de UTA no Níger, que deixou 170 mortos em
1989.
19 de dezembro de 2003: Trípoli renuncia ao desenvolvimento de armas de destruição em massa.
9 de janeiro de 2004: Acordo de indenização das famílias das vítimas do DC-10.
2005: Várias companhias petrolíferas, principalmente americanas, retomam suas operações na Líbia.
15 de maio de 2006: Restabelecimento das relações
diplomáticas completas com Washington. Retirada da Líbia da lista
americana dos Estados que apoiam o terrorismo.
A Opinião:
Hoje parece não haver mais a necessidade de julgamento. Os detentores dos meios de comunicação fazem isso pelo mundo e a população simplesmente comemora a morte de um ser humano que sequer conheceram.
É a sede de sangue, não estou aqui para defender o ditador que criou em Março de 1977 o conceito de "Estado das massas", em que o poder é exercido através
de milhares de "comitês populares". Numa das grandes contradições desse caso.
Apenas gostaria de ver o julgamento, conhecer os fatos que o levaram a ser assassinado.
De qualquer forma é a virada de Barack Obama que faz 2 a 1 no George W. Bush com gols de Osama Bin Laden e Muamar Kadafi para o time do Obama e de Saddam Hussein para o Bush.
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